segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Nas vésperas de partir - sempre!

Da "lista de coisas que mais gosto de fazer na vida" tenho viajar como número I.

De personalidade escapista, adoro arrumar as malas.
E fazer planos em papel.

Quando eu falo em viajar sozinha escuto o mesmo "ah, sério? tadinha."
E nunca entendo.

Sinto frio na barriga quando penso no café que vou tomar, sozinha, quando cansar de caminhar, sozinha, por entre as ruas.
E sinto frio na barriga porque sei que todo esse sozinha vem acompanhado de uma enorme companhia de mim.

Eu fico enfadada de tanto "outras pessoas" que carrego no meu cotidiano: durante a semana - "útil - nunca consigo ficar mais que duas horas sozinha e passo pelo menos 10 horas rodeada, sendo visto e pensada, por cerca de 40 pessoas. É assim que é ser professora de escola. E olha que eu gosto.

Nada como, nas férias, passar alguns dias fazendo "nada" aos olhos dos outros.

Algumas pessoas não podem entender o que é ficar feliz estando gripada, olhando a chuva que cai na Paulista, tomando um café com as costas levemente doloridas de tanto caminhar. Estando por cerca de três horas no mais absoluto silêncio.

A ausência da companhia permite a tranquilidade das decisões repentinas e silenciosas, tomadas com naturalidade tal que parece que foram tomadas há séculos. Como aquelas que foram tomadas no mesmo segundo em que meu olhar tocou o letreiro do cine Belas Artes, no meio da Consolação. E foi muito silenciosamente-rápido que decidi e pude entrar no cinema, comprar um espresso e um ingresso. E assistir, sozinha, o filme de 2003.

É isso.

Gosto das decisões tomadas tais quais um gole de café que pedi em um lugar qualquer, simplesmente porque olhei e escolhi, sem saber de nada antes. Sem saber se viria amargo, adoçado, meio frio, meio forte, meio sem graça. Sem prejudicar ninguém. Sem implicar nada em outra pessoa. Só em mim.

No meio do caminhar, do café, do sentar, do entrar e sair de estabelecimentos comerciais, parques e banheiros públicos, desvela-se o que andava escondido no furor da comunicação absurda e extrema que me ronda o dia-a-dia. O silêncio ensurdecedor da Rua Augusta me leva a um espaço que vem se tornando quase desconhecido, mas que eu conheço e reconheço há 27 anos e poucos meses. Gosto do silêncio dos carros, árvores, pessoas e máquinas da rua. Tornam-se trilha sonora pra uma introspecção tão necessária e bonita.

Silêncio na alma, tão abarrotada de barulhos internos, externos, mistos, contíguos.

"Precisa-se de silêncio para ir ao interior"

E quando estou onde estou sem ter aonde ir, sem necessitar dizer, explicar, decidir, torna-se indiferente meu contato físico com o momento. Passo a circular livremente por dentro da minha cabeça. Meus pensamentos alteram minha noção de tempo e se encaixam com o infinito. Surgem novas perspectivas. Desvela-se no silêncio um pouco do que sublimei por meio de tanta fala. A mente à deriva. O que escapa e desvia embaça as imagens e ideias.

Vem surgindo, aos poucos, o desespero.

E a necessidade de voltar a falar.

Um encontro marcado e volto, como sempre, volto a falar. Muito.

E então, uma nova lista se cria: a dos desafios.

Desafio n° 1 - Descobrir por quanto tempo posso desviar meu pensamento dos atos de fala.

3 comentários:

  1. Também sempre devolvi o espanto àqueles que estranhavam meu gosto pelos dias sós, comigo mesma.

    Hoje, como boa preocupada que sou, meu desafio é o contrário.
    E vamos nessa vida-pêndulo, calando e tagarelando por aí! =)

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  2. Leio e releio o seu último grande parágrafo, grande parágrafo não, parágrafo grande... me perco nele e dale escuridão na minha luz do túnel.

    é engraçado, a menos de 24h de rumar pra sampa me deparo com seu texto, cidade que nunca titubiei... hoje já nem sei.

    que venha! silencio para escutar a decomposição.

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  3. Era bem o que eu precisava ler hoje :)
    Senti como se estivesse lendo a mim mesma. Isto é bom... nos reconhecer nos outros.
    Um abraço, Marina!

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