terça-feira, 20 de julho de 2010

Você viu?

Um sonho por aí, sem você dentro?
Eu vi. E não gostei.
Tem essa vida paralela, em que todos os dias você me recebe com um sorriso no rosto.
Faz algum tempo, porém, que você não vem.
E sinto,..., de longe eu sinto: faz tempo que não vou até você também.
Cadê eu no seu sonho?
Por que nunca mais entramos em contato? Ainda que onírico...........

Onde você se escondeu?

Quem pode me dizer?

Morfeu?


Publicado em: 17 de julho, 2010. Correio Braziliense.

Mais? #versificados

Participe!


sexta-feira, 9 de julho de 2010

Infalível.

É sempre assim:

apagamos as luzes e
ela começa a puxar o colchão,
por debaixo da cama,
afiando as unhas,
achando que não será detectada...
A gente ri.
E eu falo: tira ela do quarto?
Ele tira.

E a noite se deita com a gente.
E enfim se apagam as estrelas.

Tem início meu pesadelo.

Se ao meu lado um paiol se apaga,
e ao lado um isqueiro tenho,
que me falta?

Se perto do paiol, em frente ao isqueiro,
uma taça de vinho vazia,
e uma garrafa cheia ao lado da taça,
que me falta?

Se da cama eu alcanço o som,
o cd terminou,
mas tenho outros três engavetados de próximo, cheios de músicas tão boas,
o que me falta?

Se são 3:00 da manhã e quando sinto vontade de você,
te tenho dormindo aqui ao lado,
sei que posso te acordar a qualquer hora,
que você me receberá sorrindo,
o que me falta?

Se sei que de manhã, ao acordar,
tomaremos um café preto na padaria,
que o pão de queijo estará quentinho e
que o Sol vai nos receber sorrindo,
porque ele sempre ri em julho.e
sei que vou poder percorrer o dia lentamente,
demorando uma hora em cada segundo,
como quem está de férias,
porque de férias estou,
o que me falta?

Se na hora do almoço, amanhã,
nos falaremos e,
serão apenas alguns grunhidos de gracinha para dizer que gosta,
e ouvir de volta que é gostada em dobro,
numa harmonia quase musical,
o que me falta?

Se a tarde é toda minha,
porque a ganhei de presente, de graça,
e compartilharei com as águas do lago,
olhando ao longe a terra vermelha,
comendo uma maçã fuji perfeitinha, que não tem nenhum amassado [eca!],
o que me falta?

Se de noite, amanhã,
marcamos uma cerveja e
sei que elas estarão lá, infalíveis,
para comemorar as férias comigo,
porque é assim que elas são, infalíveis, as minhas amigas,
o que me falta?

Se sei que em poucos dias voo, sem acento, com assento,
para longe de aqui,
e se viajar é o que eu mais gosto de fazer na vida,
e os amigos me esperam,
e o Rio de Janeiro continua lindo,
e vou poder desenhar São Paulo,
o que me falta?

...a  falta de faltar algo,
porque parece que é na falta que eu me preencho.

Hoje ela me disse que eu não posso viver em uma bolha  flutuante olhando para o espelho.


Na hora só achei poético. Mas aí lembrei que ela é lacaniana.

Histeria?
Sintoma?
Estrutura?

Essa vida me dá vontade de dormir, para alcançar outras;
Dessa vida em que tudo está em ordem,
não me sobra nada.
Nem falta.
Tudo ok.
Quem sabe no dormindo o sonhando me tire do lugar.
E no acordado tudo continue assim por meses, meses que eu espero que durem anos.
Já que tá tudo bem.

sábado, 3 de julho de 2010

Da inutilidade de um amor qualquer.

Quase 2 da manhã.
Estar acordada com tanto sono já rendeu mais poesia.
Dentro da minha obsessão por listas, eu listo em pensamento o que quero pensar.
Mas pensar enjoa. Perdeu a graça.
Não consigo me concentrar mais em pensar você.

Olho alguma coisa de fisionomia sua que restou em JPEG.
Ouço um fóssil ainda meio fora do tom, em formato MP3, balbuciando letras que esqueceram o que tinham para me dizer.
E já não sai nada.

Esse amor já não dá mais poesia.

Tento pensar em você, mas me pego pensando que amanhã é domingo. Que haverá Sol. E que o julho de Brasília sempre abraça o Sol durante a tarde.
Penso que amanhã é domingo e eu combinei um café pra depois das 19:00. E um cinema.
Penso que amanhã é domingo e depois do cinema vai rolar uma cerveja e um misto árabe frio. Vou trocar o kibe cru por mais coalhada, e isso me concentra mais do que pensar em você.
Penso que amanhã é domingo e que nessa madrugada de sábado, meio ébria, tento resgatar a poesia que meu amor por você costumava render. Mas...esse amor, bem...esse amor, que me doía nas tardes solitárias de domingo, já não amanhece mais em mim aos domingos. Ele sequer tem força pra dormir em mim aos sábados.

Esse elástico, do qual são feitos os amores, é bem resistente.
Estica um bucado.
Você pode puxar - um pouco, médio, um pouco mais, muito, muito mais, e só.
Se puxar demais arrebenta.
Mas eu, a essa altura do campeonato, tento, em vão, esticar esse amor.
Mas ele já é um fragmento.

E eu continuo querendo te fazer importante agora.
Te fazer me fazer dizer importâncias.
Te importar para mim.
Mas acabo não me importando o suficiente.

Me sinto uma boba por deixar que você não me sirva sequer como matéria para poesia.
Onde foi que eu perdi o fio da meada?

Esse amor virou inútil.

Não que a inutidade seja menos bela, ou convidativa.
Mas poucos são aqueles que sabem manoelizar.
Inutilidades são delicadas, e só viram poesias quando cuidadosamente trabalhadas.
..se o meu amor por você tivesse epígrafe...evocaria Manoel de Barros, e diria:

" Nasci para administrar o à-toa
o em vão
o inútil."

Mas aí me lembro que foi ele quem disse que "poesia é a virtude de ser inútil". E se esse amor não me dá mais poesia, nem inútil mais ele é.

E agora?