domingo, 20 de dezembro de 2009

Sobre pedaços e tamanhos de gente - 1

Se tento colocar os pés para dentro, a cabeça me sai.
E quando, com esforço, enfio a cabeça dentro desse negócio, a coluna entorta - e me dói.
Se cabendo a cabeça mantenho a postura ereta, a ponta do pé, mesmo que seja só a pontinha, acaba saindo.
E foi desse jeito que eu acabei crescendo: meio torta mesmo.

Os ombros tentam se encontrar formando uma semi-circunferência que costumam chamar de sifose, mas que é apenas o que restou de uma timidez.

E meus cabelos foram desenhados assim: tentam alcançar as estrelas na menor das manifestações de algum vento que sopre diferente.

Os pés vieram curvos, à imagem e semelhança dos de meu pai. Tem formato de meia lua, de maneira que estão sempre mais suspensos que encostados no chão. Devem querer estar mais na Lua que na Terra mesmo.

Embora torta, tenho ponta do pé e de cabeça.
Cinco pontas de dedo em cada mão
E outras cinco em cada pé.
Foi a moldura. Foi só a moldura que veio errada.

Porque diabos nos fazem molduras tão apertadas?

Eu poderia mesmo ter vindo em uma moldura maior.
Nessa, acabei ficando sem enquadramento.
Mas não tem problema.
Depois daqueles vanguardistas famosos, pedaços de gente e gente torta  são também obras de arte.
E eu fui feita assim.
Pequenos pedaços meio tortos.
Que hoje estão espalhados.

Talvez algum deles esteja caído aí, em você.
Se você achar, pode me devolver. Vou colar.
Ainda bem que, hoje em dia, até mesmo as colagens são obras de arte.
Ah!!!...........os modernistas..!!!


3 comentários:

  1. Gostei, tenho um pedaco aqui, mas nao devolvo.

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  2. ahuuaaaahuaha não devolvo não sua gordinha inútil, pode tratar de colar outros materiais, novos, muito novos e modernos

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