sexta-feira, 9 de julho de 2010

Infalível.

É sempre assim:

apagamos as luzes e
ela começa a puxar o colchão,
por debaixo da cama,
afiando as unhas,
achando que não será detectada...
A gente ri.
E eu falo: tira ela do quarto?
Ele tira.

E a noite se deita com a gente.
E enfim se apagam as estrelas.

Tem início meu pesadelo.

Se ao meu lado um paiol se apaga,
e ao lado um isqueiro tenho,
que me falta?

Se perto do paiol, em frente ao isqueiro,
uma taça de vinho vazia,
e uma garrafa cheia ao lado da taça,
que me falta?

Se da cama eu alcanço o som,
o cd terminou,
mas tenho outros três engavetados de próximo, cheios de músicas tão boas,
o que me falta?

Se são 3:00 da manhã e quando sinto vontade de você,
te tenho dormindo aqui ao lado,
sei que posso te acordar a qualquer hora,
que você me receberá sorrindo,
o que me falta?

Se sei que de manhã, ao acordar,
tomaremos um café preto na padaria,
que o pão de queijo estará quentinho e
que o Sol vai nos receber sorrindo,
porque ele sempre ri em julho.e
sei que vou poder percorrer o dia lentamente,
demorando uma hora em cada segundo,
como quem está de férias,
porque de férias estou,
o que me falta?

Se na hora do almoço, amanhã,
nos falaremos e,
serão apenas alguns grunhidos de gracinha para dizer que gosta,
e ouvir de volta que é gostada em dobro,
numa harmonia quase musical,
o que me falta?

Se a tarde é toda minha,
porque a ganhei de presente, de graça,
e compartilharei com as águas do lago,
olhando ao longe a terra vermelha,
comendo uma maçã fuji perfeitinha, que não tem nenhum amassado [eca!],
o que me falta?

Se de noite, amanhã,
marcamos uma cerveja e
sei que elas estarão lá, infalíveis,
para comemorar as férias comigo,
porque é assim que elas são, infalíveis, as minhas amigas,
o que me falta?

Se sei que em poucos dias voo, sem acento, com assento,
para longe de aqui,
e se viajar é o que eu mais gosto de fazer na vida,
e os amigos me esperam,
e o Rio de Janeiro continua lindo,
e vou poder desenhar São Paulo,
o que me falta?

...a  falta de faltar algo,
porque parece que é na falta que eu me preencho.

Hoje ela me disse que eu não posso viver em uma bolha  flutuante olhando para o espelho.


Na hora só achei poético. Mas aí lembrei que ela é lacaniana.

Histeria?
Sintoma?
Estrutura?

Essa vida me dá vontade de dormir, para alcançar outras;
Dessa vida em que tudo está em ordem,
não me sobra nada.
Nem falta.
Tudo ok.
Quem sabe no dormindo o sonhando me tire do lugar.
E no acordado tudo continue assim por meses, meses que eu espero que durem anos.
Já que tá tudo bem.

Um comentário:

  1. Infalíveis cervejas!!! Gostei desta.
    Elas estão lá, exatamente quando mais precisamos delas.
    Um bj

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