sábado, 3 de julho de 2010

Da inutilidade de um amor qualquer.

Quase 2 da manhã.
Estar acordada com tanto sono já rendeu mais poesia.
Dentro da minha obsessão por listas, eu listo em pensamento o que quero pensar.
Mas pensar enjoa. Perdeu a graça.
Não consigo me concentrar mais em pensar você.

Olho alguma coisa de fisionomia sua que restou em JPEG.
Ouço um fóssil ainda meio fora do tom, em formato MP3, balbuciando letras que esqueceram o que tinham para me dizer.
E já não sai nada.

Esse amor já não dá mais poesia.

Tento pensar em você, mas me pego pensando que amanhã é domingo. Que haverá Sol. E que o julho de Brasília sempre abraça o Sol durante a tarde.
Penso que amanhã é domingo e eu combinei um café pra depois das 19:00. E um cinema.
Penso que amanhã é domingo e depois do cinema vai rolar uma cerveja e um misto árabe frio. Vou trocar o kibe cru por mais coalhada, e isso me concentra mais do que pensar em você.
Penso que amanhã é domingo e que nessa madrugada de sábado, meio ébria, tento resgatar a poesia que meu amor por você costumava render. Mas...esse amor, bem...esse amor, que me doía nas tardes solitárias de domingo, já não amanhece mais em mim aos domingos. Ele sequer tem força pra dormir em mim aos sábados.

Esse elástico, do qual são feitos os amores, é bem resistente.
Estica um bucado.
Você pode puxar - um pouco, médio, um pouco mais, muito, muito mais, e só.
Se puxar demais arrebenta.
Mas eu, a essa altura do campeonato, tento, em vão, esticar esse amor.
Mas ele já é um fragmento.

E eu continuo querendo te fazer importante agora.
Te fazer me fazer dizer importâncias.
Te importar para mim.
Mas acabo não me importando o suficiente.

Me sinto uma boba por deixar que você não me sirva sequer como matéria para poesia.
Onde foi que eu perdi o fio da meada?

Esse amor virou inútil.

Não que a inutidade seja menos bela, ou convidativa.
Mas poucos são aqueles que sabem manoelizar.
Inutilidades são delicadas, e só viram poesias quando cuidadosamente trabalhadas.
..se o meu amor por você tivesse epígrafe...evocaria Manoel de Barros, e diria:

" Nasci para administrar o à-toa
o em vão
o inútil."

Mas aí me lembro que foi ele quem disse que "poesia é a virtude de ser inútil". E se esse amor não me dá mais poesia, nem inútil mais ele é.

E agora?

5 comentários:

  1. e agora eu às três da manhã encontro conforto (e poesia) aqui.
    gracias! =)

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  2. e aí o poético na ausência da poesia

    felizmente ou infelizmente... acho que a poesia tá praí, passa amor, passa carinho, a poesia... passarinho

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  3. Sei não hein, mas suspeito que esse monte de não-importância junta dá mais trabalho do que esses nossos amores úteis de todo dia. ;) saudade das nossas fofocaiadas!

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  4. Mas a desimportância dá trabalho mesmo.
    Só não dá nada útil. Quem disse que o trabalho dignifica o homem viajou!!

    um viva pra amores inúteis e úteis de todo dia ;)...

    Lembrei da música:

    Ah, não existe coisa mais triste que ter paz
    E se arrepender, e se conformar
    E se proteger de um amor a mais

    O tempo de amor
    É tempo de dor
    O tempo de paz
    Não faz nem desfaz

    Ah, que não seja meu
    O mundo onde o amor morreu

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