Eis que, de gota-em-gota, pinga, há anos, um amor.
Há anos ele me pinga. Há anos me emaranha e me mareia.
Pinga no mar, meio turvo.
De tanto que há tanto que pinga, aos poucos, os monstros do mar se desfazem.
Nessa linha do horizonte, onde o barco costumava despencar, me vejo percebendo a curva.
Aprendi a decorar os monstros marinhos. Monstrus marinus.
E aos poucos a deixar a maré me embalar.
Sem marear. Só mar. Só ar.
Dos amores que vieram em correntezas fortes, pouco pesquei.
Eu tenho esse amor que me pinga.
E vem brotando do meu mar a cada instante.
Quem sabe os Monstrus marinus, muito em breve, liberem de vez esse amor que vem em ondas.
Quem sabe de tanto viver na água-mar, esse amor aprenda a evaporar.
E depois a chover.
Quem sabe ele me pingue um delicioso rio de água doce.
Em uma chuva bem fininha, livre de sal.
Porque eu não sei separar o entre da coisa. Porque é no entre que a coisa é.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
domingo, 15 de agosto de 2010
Sobre um grande amor.
Pra terceira leva de #versificados desse ano, a sugestão foi falar sobre o dia dos pais. Sobre o pai. Os pais.
Aí balancei o berço das memórias, e algumas incríveis acordaram.
Lembrei de quando ele nos buscava na escola e fazia a proposta surpresa: pedalar até o "cu do pato", comer uma massa e dormir. No dia seguinte nos levaria para a casa da mamãe novamente.
Depois do "cu do pato", como ele chamava um lugarzinho que ficava há uns 10 km da casa dele, cansadas, ele nos faria uma massa para comer. E quando era hora de dormir, sem as nossas camisolas, que estavam na casa da mamãe, ele nos emprestaria camisetas.
Mas ele tinha mais de 1,80 m. E eu deveria ter no máximo 6 anos de idade. Elas ficavam tão grandes. Tocavam o calcanhar e passavam da dobrinha do braço.
Era hora de dormir e ele cantaria, alto: "dórminhapequena não vale a pena despertar!"
Eu sabia que tudo estava bem.
Que eu estava segura.
E que ali, bem ali naquele quarto, ao lado da minha irmã, sob a voz do meu pai, existia o amor.
Aí balancei o berço das memórias, e algumas incríveis acordaram.
Lembrei de quando ele nos buscava na escola e fazia a proposta surpresa: pedalar até o "cu do pato", comer uma massa e dormir. No dia seguinte nos levaria para a casa da mamãe novamente.
Depois do "cu do pato", como ele chamava um lugarzinho que ficava há uns 10 km da casa dele, cansadas, ele nos faria uma massa para comer. E quando era hora de dormir, sem as nossas camisolas, que estavam na casa da mamãe, ele nos emprestaria camisetas.
Mas ele tinha mais de 1,80 m. E eu deveria ter no máximo 6 anos de idade. Elas ficavam tão grandes. Tocavam o calcanhar e passavam da dobrinha do braço.
Era hora de dormir e ele cantaria, alto: "dórminhapequena não vale a pena despertar!"
Eu sabia que tudo estava bem.
Que eu estava segura.
E que ali, bem ali naquele quarto, ao lado da minha irmã, sob a voz do meu pai, existia o amor.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Nas vésperas de partir - sempre!
Da "lista de coisas que mais gosto de fazer na vida" tenho viajar como número I.
De personalidade escapista, adoro arrumar as malas.
E fazer planos em papel.
Quando eu falo em viajar sozinha escuto o mesmo "ah, sério? tadinha."
E nunca entendo.
Sinto frio na barriga quando penso no café que vou tomar, sozinha, quando cansar de caminhar, sozinha, por entre as ruas.
E sinto frio na barriga porque sei que todo esse sozinha vem acompanhado de uma enorme companhia de mim.
Eu fico enfadada de tanto "outras pessoas" que carrego no meu cotidiano: durante a semana - "útil - nunca consigo ficar mais que duas horas sozinha e passo pelo menos 10 horas rodeada, sendo visto e pensada, por cerca de 40 pessoas. É assim que é ser professora de escola. E olha que eu gosto.
Nada como, nas férias, passar alguns dias fazendo "nada" aos olhos dos outros.
Algumas pessoas não podem entender o que é ficar feliz estando gripada, olhando a chuva que cai na Paulista, tomando um café com as costas levemente doloridas de tanto caminhar. Estando por cerca de três horas no mais absoluto silêncio.
A ausência da companhia permite a tranquilidade das decisões repentinas e silenciosas, tomadas com naturalidade tal que parece que foram tomadas há séculos. Como aquelas que foram tomadas no mesmo segundo em que meu olhar tocou o letreiro do cine Belas Artes, no meio da Consolação. E foi muito silenciosamente-rápido que decidi e pude entrar no cinema, comprar um espresso e um ingresso. E assistir, sozinha, o filme de 2003.
É isso.
Gosto das decisões tomadas tais quais um gole de café que pedi em um lugar qualquer, simplesmente porque olhei e escolhi, sem saber de nada antes. Sem saber se viria amargo, adoçado, meio frio, meio forte, meio sem graça. Sem prejudicar ninguém. Sem implicar nada em outra pessoa. Só em mim.
No meio do caminhar, do café, do sentar, do entrar e sair de estabelecimentos comerciais, parques e banheiros públicos, desvela-se o que andava escondido no furor da comunicação absurda e extrema que me ronda o dia-a-dia. O silêncio ensurdecedor da Rua Augusta me leva a um espaço que vem se tornando quase desconhecido, mas que eu conheço e reconheço há 27 anos e poucos meses. Gosto do silêncio dos carros, árvores, pessoas e máquinas da rua. Tornam-se trilha sonora pra uma introspecção tão necessária e bonita.
Silêncio na alma, tão abarrotada de barulhos internos, externos, mistos, contíguos.
E quando estou onde estou sem ter aonde ir, sem necessitar dizer, explicar, decidir, torna-se indiferente meu contato físico com o momento. Passo a circular livremente por dentro da minha cabeça. Meus pensamentos alteram minha noção de tempo e se encaixam com o infinito. Surgem novas perspectivas. Desvela-se no silêncio um pouco do que sublimei por meio de tanta fala. A mente à deriva. O que escapa e desvia embaça as imagens e ideias.
Vem surgindo, aos poucos, o desespero.
E a necessidade de voltar a falar.
Um encontro marcado e volto, como sempre, volto a falar. Muito.
E então, uma nova lista se cria: a dos desafios.
Desafio n° 1 - Descobrir por quanto tempo posso desviar meu pensamento dos atos de fala.
De personalidade escapista, adoro arrumar as malas.
E fazer planos em papel.
Quando eu falo em viajar sozinha escuto o mesmo "ah, sério? tadinha."
E nunca entendo.
Sinto frio na barriga quando penso no café que vou tomar, sozinha, quando cansar de caminhar, sozinha, por entre as ruas.
E sinto frio na barriga porque sei que todo esse sozinha vem acompanhado de uma enorme companhia de mim.
Eu fico enfadada de tanto "outras pessoas" que carrego no meu cotidiano: durante a semana - "útil - nunca consigo ficar mais que duas horas sozinha e passo pelo menos 10 horas rodeada, sendo visto e pensada, por cerca de 40 pessoas. É assim que é ser professora de escola. E olha que eu gosto.
Nada como, nas férias, passar alguns dias fazendo "nada" aos olhos dos outros.
Algumas pessoas não podem entender o que é ficar feliz estando gripada, olhando a chuva que cai na Paulista, tomando um café com as costas levemente doloridas de tanto caminhar. Estando por cerca de três horas no mais absoluto silêncio.
A ausência da companhia permite a tranquilidade das decisões repentinas e silenciosas, tomadas com naturalidade tal que parece que foram tomadas há séculos. Como aquelas que foram tomadas no mesmo segundo em que meu olhar tocou o letreiro do cine Belas Artes, no meio da Consolação. E foi muito silenciosamente-rápido que decidi e pude entrar no cinema, comprar um espresso e um ingresso. E assistir, sozinha, o filme de 2003.
É isso.
Gosto das decisões tomadas tais quais um gole de café que pedi em um lugar qualquer, simplesmente porque olhei e escolhi, sem saber de nada antes. Sem saber se viria amargo, adoçado, meio frio, meio forte, meio sem graça. Sem prejudicar ninguém. Sem implicar nada em outra pessoa. Só em mim.
No meio do caminhar, do café, do sentar, do entrar e sair de estabelecimentos comerciais, parques e banheiros públicos, desvela-se o que andava escondido no furor da comunicação absurda e extrema que me ronda o dia-a-dia. O silêncio ensurdecedor da Rua Augusta me leva a um espaço que vem se tornando quase desconhecido, mas que eu conheço e reconheço há 27 anos e poucos meses. Gosto do silêncio dos carros, árvores, pessoas e máquinas da rua. Tornam-se trilha sonora pra uma introspecção tão necessária e bonita.
Silêncio na alma, tão abarrotada de barulhos internos, externos, mistos, contíguos.
"Precisa-se de silêncio para ir ao interior"
E quando estou onde estou sem ter aonde ir, sem necessitar dizer, explicar, decidir, torna-se indiferente meu contato físico com o momento. Passo a circular livremente por dentro da minha cabeça. Meus pensamentos alteram minha noção de tempo e se encaixam com o infinito. Surgem novas perspectivas. Desvela-se no silêncio um pouco do que sublimei por meio de tanta fala. A mente à deriva. O que escapa e desvia embaça as imagens e ideias.
Vem surgindo, aos poucos, o desespero.
E a necessidade de voltar a falar.
Um encontro marcado e volto, como sempre, volto a falar. Muito.
E então, uma nova lista se cria: a dos desafios.
Desafio n° 1 - Descobrir por quanto tempo posso desviar meu pensamento dos atos de fala.
domingo, 8 de agosto de 2010
Joaquim
A chegada do Joaca
Câncer é um signo do elemento água e tem a Lua como "planeta regente".
Eu penso que a história de um canceriano se faz assim:
Entre junho e julho os caranguejos fazem a festa.
Trazem presentes da água, para a gente que está tão enfadado de terra.
Trazem presentes da Lua, para a gente que está tão enfadado de Terra.
Eles caem da Lua diretamente no mar e, então, são resgatados por um caranguejo.
Os caranguejos, decápodas, carregam então, para fora da água, os pequenos recém-nascidos.
E os entregam a mães e pais que aqui esperam, com a seguinte mensagem:
"Por um mundo mais sensível: um pequeno canceriano".
Hoje, 08/08, é o primeiro dia dos pais do Joaquim. E do pai do Joaquim, como pai.
E amanhã ele completa seu primeiro mês de vida.
Já é um pequeno experiente.
Estamos felizes com esse novo canceriano no mundo.
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